
Ag. Estado
Participação de escolas na avaliação é irregular, comprometendo aferição
O uso do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), proposto pelo ministro Aloizio Mercadante, pode introduzir uma distorção na medição da qualidade da educação nesse ciclo do ensino. Isso porque a adesão de estudantes à avaliação nacional é irregular, o que deve comprometer a aferição. No exame de 2010, por exemplo, 60% das escolas “levaram” menos da metade de seus alunos ao Enem. Em apenas 7,6% das unidades, mais de 90% dos estudantes fizeram a prova. Além disso, a taxa de participação de alunos da rede privada supera a da pública em 85%: ou seja, certos grupos de estudantes têm mais interesse no Enem do que outros.
Os dados mostram, portanto, que é questionável a teoria de que o Enem tem representatividade censitária, como defende Mercadante. A amostra, nesse caso, é aleatória e pode não refletir o desempenho das escolas, fornecendo um retrato pouco fiel da qualidade do ensino.
O Enem é feito por alunos mais preparados, focados na aprovação em uma universidade, uma vez que o exame se tornou via de o a instituições públicas e também privadas, via ProUni. De acordo com um ex-funcionário do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que pediu anonimado, isso favorece escolas com desemepenho ruim a encorajar seus melhores alunos a fazer o exame, desestimulando os piores e elevando, assim, a nota da instituição na avaliação.
Estados que possuem as escolas que registraram as mais baixas taxas de adesão ao Enem obtiveram também as mais baixas notas no Ideb. Em Alagoas, que ostenta o pior índice do país no Ideb (2,6,), 77,9% das escolas não “levaram” nem metade dos estudantes ao Enem. Em seguida, estão Amapá e Pará, com baixa adesão e notas abaixo da média nacional.
Outro problema estaria na conciliação das métricas de avaliação, uma vez que o Enem e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), conjunto de provas que avalia a educação básica e que compõe a nota do Ideb, utilizam “réguas” diferentes para aferir o conhecimento dos alunos. Esta “régua” é uma marcação onde são dispostas as questões da prova de acordo com seu grau de dificuldade (leia mais sobre a Teoria da Resposta ao Item). O ministro Mercadante deu 60 dias para o Inep apresentar um estudo de compatibilização das “réguas” do Enem e do Saeb.