Astrônomos descobrem que as maiores e mais brilhantes estrelas do universo estão aos pares –e a menor delas ‘sobrevive’ sugando matéria da vizinha
Elas são as maiores e mais brilhantes estrelas do universo. Com temperaturas acima de 30 mil graus celsius, cor azulada e enorme quantidade de massa, as estrelas do tipo “O”, em geral, não estão sozinhas. Cientistas descobriram que esses gigantescos corpos celestes ocorrem, na maior parte das vezes, aos pares. Esses ‘sistemas binários’ se mantêm com a maior estrela “alimentando” a menor, transmitindo massa e energia. Os resultados do estudo serão publicados na revista Science desta sexta-feira.
Por causa do enorme tamanho e do brilho intenso, até então não era possível observar que essas estrelas conviviam, em grande parte, aos pares. Com novas técnicas de análise de dados fornecidos pelo VLT, telescópio da ESO (Observatório Europeu do Sul) , eles puderam perceber o fenômeno.
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Estrelas “O”
A maior parte das estrelas é classificada conforme seus espectros e cores. Isso está relacionado à massa e temperatura da superfície. Das estrelas azuis (mais quentes e de maior massa) até as vermelhas (mais frias e menores), a classificação mais segue a sequencia O, B, A, F, G, K e M. As estrelas do tipo O têm temperatura igual ou maior que 30 mil graus celsius. São astros com massa quinze vezes maiores que a do Sol que, aliás, é uma estrela do tipo A.
“Essas estrelas são monstros colossais”, disse Hugues Sana, da Universidade de Amsterdam, que liderou o estudo. “Elas têm quinze ou mais vezes a massa do Sol e podem ser milhares de vezes mais brilhantes”, falou.
“A vida de uma estrela é muito afetada se, ao lado dele, houver outra estrela”, disse Selma de Mink, coautora do estudo. “Se elas orbitam muito próximas umas das outras, poderão se fundir. Se isso não ocorrer, uma sempre vai colocar matéria na superfície da outra”, disse.
Somos todos um – Os astrônomos estudaram uma amostra de 71 estrelas únicas ou em pares em seis aglomerados estrelares próximos à Via Láctea. Analisando as luzes emitidas por esses astros com maior detalhe, o grupo verificou que 75% das estrelas do tipo “O” estão em ‘sistemas binários’ – uma proporção muito maior do que se havia suposto anteriormente.
Até agora, astrônomos consideraram que as órbitas binárias eram exceção e serviam só para explicar raios-X, buracos negros e pulsares binários. Além disso, eles verificaram que essa interação “vampiresca” é mais forte do que se sabia, o que traz grandes implicações para a compreensão da evolução da galáxia.
Botox estrelar – As menores estrelas deste sistema binário, por exemplo, são renovadas com a transferência de matéria. Assim, sua massa crescerá e ela vai sobreviver mais tempo se comparada a outras estrelas de mesma massa, mas sem par. Por outro lado, a maior estrela deste binário vai perder o envoltório de energia antes de ter a chance de se tornar uma gigante vermelha, que é o que ocorre com estrelas antigas.
O resultado é que, em uma galáxia distante, a população estelar pode parecer mais jovem do que realmente é: ambas as estrelas, tanto a ‘vampira’ quanto a ‘vítima’, podem se mostrar azuis, imitando a superfície de estrelas jovens. Saber a real proporção desses fenômenos é crucial para caracterizar as galáxias mais distantes, segundo os cientistas.